Razen observou o irmão, trêmulo. A visão de Loren, com um braço metálico, empunhando uma espada, pronto para acabar com seu próprio irmão, foi muito perturbadora para o pequeno ruivo, que se afastou lentamente, dando passos pra trás e procurando uma parede com os dedos para se apoiar.
- Está com medo? – Disse Loren, desvencilhando-se das mãos de Margot, e aproximando-se de Razen.
Blaze estendeu o braço rapidamente, com o cano de sua shotgun encostada no lado esquerdo da cabeça de Loren, e disse:
- Mais um passo e o seu crânio vai voar longe, rapaz. Já cansei dessa brincadeira idiota de gato e rato. É hora de tomar uma atitude.
- Quem é esse infeliz apontando essa arma? – Retrucou o ruivo, com desprezo. Seimic apareceu nesse momento, saltando pra fora da casa de Cyka com os punhos erguidos, atacando Blaze, que desviou dando alguns passos pra trás. Loren aproveitou a brecha, e tentou apunhalar Razen no peito, que desviou por muito pouco, sofrendo um corte na camisa. O ruivo mais novo, desesperado, iniciou uma fuga pela calçada, aproveitando a ausência de pessoas e veículos. Loren seguiu-o de perto, com a espada brilhando contra o calor do sol, e o braço tremendo de tanta ansiedade em perfurar o tão odiado irmão. Clay, vendo a perseguição, pegou um pequeno pedaço de madeira – pertencente à porta destruída por Seimic outrora – e correu atrás de Loren para tentar impedir a tragédia.
Blaze tentou correr também, mas se viu encurralado por Seimic, que investia diversas vezes contra o corpo do caçador, desferindo socos e chutes carregados de uma brilhante energia branca, muito provavelmente mágica.
- Será mesmo que vou ter que acabar com você antes do seu chefe? – Provocou Blaze, defendendo um dos socos de Seimic com o braço.
- Acabar comigo? – Perguntou o mago, rindo debochadamente.
- Me desculpe, mas a minha paciência esgotou. – Sibilou o caçador, batendo com o cabo da shotgun no peito de Seimic, e girando a arma logo em seguida, apontando agora diretamente para o rosto do mago. – Espere por mim no inferno. – Disse, antes de atirar.
O tiro acertou em cheio, e a luta parecia estar acabada. Porém, algo estranho aconteceu. Mesmo com duas balas alojadas no rosto – uma no nariz e outra na bochecha – Seimic continuava sorrindo debochadamente, parecendo nem mesmo sentir dor.
- O que diabos é você? – Perguntou Blaze, assustado.
- Eu sou... – Seimic avançou contra o caçador, e desferiu um soco envolto de uma grande camada da energia branca no peito do rapaz, que acabou chocando-se contra um poste do outro lado da rua – Imortal.
Margot, que apenas assistia a tudo pacientemente, sorriu nesse momento, e olhou para a pequena gata amedrontada escondida debaixo do carro.
- Você poderia criar coragem e vir brincar comigo. Em nosso último encontro eu não tive oportunidade nem mesmo de utilizar minhas habilidades mais apavorantes – Entoou Margot, cruzando os braços delicadamente e observando a gata, que saiu lentamente de baixo do carro, e transformou-se novamente na bela jovem Cyka.
- Muito bem então. Todos estão lutando e tentando nos ajudar. Eu farei a minha parte, acabando com você.
- Ora, ora... Não blasfeme de tal modo. Você deve saber que eu sou como o meu marido. – Margot abaixou a voz nesse momento, e disse pausadamente – Imortal.
- Sim, eu sei – Respondeu Cyka – Como também sei que – A maga temporal iniciou gestos com as mãos, e começou a se aproximar de Margot – A sua imortalidade depende do seu querido líder ruivo permanecer vivo. – Uma luz roxa surgiu entre os dedos da maga, e espalhou-se pelo ar até formar uma bela espada negra – Meu papel então é manter você ocupada, até ele estar MORTO. – A maga avançou contra Margot, confiante em si mesma agora.
Margot fez alguns gestos com as mãos, e criou outra espada de luz, um pouco maior e mais grossa que a de Cyka, e atacou-a. As duas magas iniciaram um embate de espadas, onde a cada choque das lâminas, um brilho ofuscante atrapalhava a visão do próximo golpe.
Blaze e Seimic continuavam a digladiar, o caçador atirando contra diversas partes do corpo do mago, sem sucesso em derrubá-lo, e Seimic retrucando com alguns socos e chutes poderosíssimos.
Razen continuava a fugir, passando por diversas ruas desertas, seguido de perto por Loren, que disparava golpes contra o ar na tentativa de acertar as costas do irmão. Clay, um pouco mais atrás, tentava acompanhar o ritmo dos dois, desesperado em ajudar o afilhado. Ao cruzar uma avenida enorme, e quase ser atropelado por dois carros que passavam em alta velocidade, Razen entrou em um beco, crente que iria encontrar uma saída ao fim dele, mas não encontrou. Correu até o fim do beco, já não tendo mais como escapar por algum outro lugar. Virou-se de costas para a parede que representava o fim de sua fuga, e observou seu irmão, que agora diminuía o passo, rir alegremente ao constatar a ausência de caminhos no fim do beco.
- É chegada a hora que tanto esperei – Disse Loren, aproximando-se lentamente de Razen, com a espada empunhada, em posição de ataque.
- Por que tudo tem que acabar assim? – Perguntou Razen, chorando em desespero, ao ver seu irmão cada vez mais perto, pronto para tirar a sua vida. – Você é o meu IRMÃO. Nós CRESCEMOS JUNTOS, vivemos EXPERIÊNCIAS JUNTOS, PRA UM DIA VOCÊ SIMPLESMENTE MUDAR E DECIDIR ME MATAR?
- SIM, Razen, SIM! Crescemos juntos, e eu sempre fui o mais querido por todos! Fui melhor do que você em tudo, então POR QUE VOCÊ TINHA QUE TER O PODER PARA MATAR VAMPIROS? Por que você e não EU, o verdadeiro PREDESTINADO a isso? VEJA O MEU BRAÇO, VEJA O QUE ACONTECEU COMIGO POR SUA CULPA– Retrucou o ruivo mais velho, gritando enlouquecido, com o rosto sardento vermelho em fúria e o braço metálico em movimento
Razen, mergulhado em um choro incontrolável, percebeu uma coisa que jamais havia notado:
- Então... Todo o seu ódio é baseado apenas na culpa que você me atribuiu pela perda do seu braço – Sussurrou – Uma perda causada apenas pela sua própria arrogância em querer enfrentar o vampiro sozinho...
Loren fitou seu irmão por alguns segundos, controlando a respiração e recuperando a postura.
- Quer saber? Não importa de onde vem o meu ódio. O que importa é que tudo vai acabar agora. Eu nunca mais terei que ver essa sua cara nojenta, e poderei finalmente viver em paz, tendo a certeza de que todas as minhas vinganças foram completas. O assassino de meus pais já não existe mais, e o menino ruivo que ousou tirar o MEU poder de acabar com os vampiros morre AGORAAAAA – Gritou Loren, avançando contra o corpo de Razen, que, sem ação, apenas olhou para seu irmão aguardando um milagre que impedisse a sua morte.
-Milagres não acontecem, filho. Apenas um milagre poderia impedir que eu viajasse para o país vizinho com a sua mãe agora. Mas isso não vai acontecer. Eu viajarei, e resolverei de uma vez por todas os nossos problemas com um velho conhecido, que está atormentando a nossa vida há um longo tempo. Não se preocupe, eu levarei você e o seu irmão para a casa do meu jovem amigo Clay. Ele é um bom rapaz, tenho certeza de que cuidará muito bem de vocês enquanto eu estiver fora.
Razen se lembrou das palavras de seu pai Larks, quando ainda tinha apenas seis anos, e estava prestes a conhecer Clay.
- Mas quanto tempo você vai demorar lá, papai? Tenho certeza de que Loren vai chorar bastante sentindo sua falta, mas eu vou tentar ajudá-lo. Meu irmão precisa muito de mim!
- Sim filho, seja um bom irmão mais novo para o Loren. Ele vai precisar de você. Loren é um bom menino, apesar de não ter muita certeza em suas decisões e atitudes. O futuro de vocês dois será maravilhoso, e eu estarei lá para acompanhar todos os detalhes!
- Vou me juntar a você, pai. – Disse Razen, ao sentir a ponta da espada de Loren atravessar o seu peito lentamente. As lágrimas, que ainda escorriam do rosto cada vez mais pálido e sem vida, misturaram-se ao doce vermelho do sangue jorrando do corte. O pequeno ruivo já havia perdido os sentidos quando seu irmão, chocado com o que acabara de fazer, retirou a espada e observou-a. Observou o sangue fresco escorrendo da espada e do corte no peito de seu irmão, e sentiu um desamparo insuportável.
- O que... Eu fiz? Acabei com a vida da única família que me restava no mundo... Matei o meu próprio irmão... – Loren largou a espada e agarrou o corpo de Razen – ACORDE... ACORDE POR FAVOR – Chacoalhou o corpo sem vida – Por favor...
Clay avistou os ruivos nesse momento. Estava do outro lado do beco, por onde outrora eles passaram. Acelerou o passo para chegar até eles e gritou:
- Não faça nenhuma besteira Loren! Não mate seu irmão! Você vai se arrepender disso pra sempre! – Quando finalmente se aproximou, percebeu que era tarde. Ao ver a figura de Loren abraçando Razen sem vida, com um buraco no peito e um derramamento sem igual de sangue, Clay empurrou o ruivo mais velho e puxou Razen, gritando pelo nome do afilhado em uma angústia profunda.
Loren, sem conseguir raciocinar corretamente, pegou novamente a espada, e caminhou até Clay, olhando-o com a mesma raiva de antes.
- VAI ME MATAR TAMBÉM? VEJA O QUE VOCÊ FEZ SEU MANÍACO! – Gritou Clay, puxando o corpo de Razen para longe do irmão, que se aproximava lentamente.
- Não, não vou te matar. Vou fazer o que deveria ter feito desde o início – Loren olhou para Clay, clamando por piedade e murmurou – Perdão... Pai. – E cravou a espada contra o próprio peito, caindo fulminado em seguida.
Clay olhou para o corpo de Loren, e involuntariamente começou a chorar, apertando com força Razen em seus braços.
- Só pode ser um pesadelo...
Seimic, com cerca de 8 balas alojadas por entre o corpo, continuava a rir de Blaze, que agora se desvencilhava dos socos e chutes com alguma dificuldade.
Cyka, que continuava a digladiar com Margot, parou por um instante, e encarou a maga com frieza.
- Duas presenças... Acabaram de partir. Parece que... Acabou.
Margot baixou a espada, e sentiu uma pontada no coração. Percebera ali que o seu líder estava morto.
- Não... Não pode ser... – Sibilou.
- Diga adeus à sua imortalidade, e à sua vida. – Frisou Cyka, antes de atravessar sua espada na maga, que não tentou nem mesmo reagir.
Blaze, percebendo que a inimiga fora derrotada, acertou um chute em Seimic, fazendo-o cambalear, e tentou atirar novamente. Os tiros acertaram nas costas do mago, que cuspiu sangue e olhou para o caçador, assombrado.
- Sangue...? Não... MESTRE... – Disse o mago, virando a cabeça para os lados tentando sentir a presença de Loren.
Blaze aproximou-se do inimigo e apontou novamente sua shotgun na cabeça, dizendo:
- Vou lhe fazer o favor de juntá-lo ao seu mestre novamente, agora mesmo.
Seimic olhou para Blaze, e respondeu:
- Não existe motivo pra viver... Se o meu mestre não está mais aqui.
O caçador atirou no momento seguinte, e suspirou. Cyka aproximou-se, e disse:
- Temos que ser rápidos. Sinto que alguma coisa muito ruim aconteceu com aqueles ruivos. – Transformou-se novamente em gato e pulou no ombro de Blaze, que sussurrou:
- Se algo aconteceu ao Razen...
Caçadores que podem não terminar o dia vivos, preocupados não apenas com suas caças.
quarta-feira, 29 de setembro de 2010
Capítulo 11 - Memórias
- Acordou?
Razen abriu os olhos. Um tanto quanto desnorteado, começou a observar o ambiente. Estava em um quarto de hospital, deitado sobre uma cama macia e quentinha. Ao seu lado viu Clay, sentado em uma cadeira, apoiando-se nas mãos e observando o afilhado.
- O que... Aconteceu? – Perguntou finalmente, após observar a sala mais um instante, e a janela ao fundo que suavemente transmitia calor solar para o cômodo.
- Ninguém sabe ao certo, estamos investigando. Você adormeceu filho, exatamente cinco dias atrás. Não conseguíamos acordá-lo, então resolvemos trazê-lo ao hospital. Mas não adiantou muita coisa.
- Adormeci? Como assim?
- Isso foi obra de alguém que quer lhe fazer mal. Eu fiquei ao seu lado durante esses cinco dias, juntamente de Blaze. Você diversas vezes resmungou coisas que...
- Que o quê? – Perguntou Razen, exasperado.
- Que aconteceram conosco. Creio que você reviveu todo o seu passado, em um sonho interminável. Você resmungou sobre Nibelung, sobre Loren, e até mesmo sobre a vez em que você sofreu a primeira Queda com Blaze.
Razen arregalou os olhos, assustado. Lembrou-se de ter mesmo sonhado com tudo o que acontecera em sua vida.
- Foi... Isso mesmo. Mas como pode ter acontecido? Quem teria feito isso?
Clay não respondeu. Acabara de atender o celular, que tocava insistentemente enquanto Razen falava.
- Certo, estamos indo. – Disse Clay, desligando o celular. – É hora de descobrir a verdade, filho.
Pouco tempo depois, a dupla deixou o hospital. Clay conversou com os médicos durante algum tempo, e não teve muitos problemas para liberar o paciente.
No estacionamento, Razen, que continuava confuso e pensativo, perguntou:
- Se eu resmunguei coisas sobre Nibelung... Talvez Blaze já saiba a verdade... Que nós dois matamos o avô dele.
- Ah sim, ele já sabe. Blaze não parece muito preocupado com familiares vampiros... – Respondeu Clay com tranqüilidade, enquanto entrava no taxi para deixarem o estacionamento.
Durante o caminho, ambos permaneceram em silêncio. O dia estava calmo, as ruas pouco movimentadas e algumas poucas lojas abertas aguardando clientes. O Táxi parou em um cruzamento, com o semáforo piscando em vermelho. Dois pedestres atravessavam lentamente. Razen observou algo estranho neles, e comunicou ao companheiro:
- Veja esses dois...
Clay olhou para os pedestres, e arrepiou-se. Era uma dama, portando um longo vestido azulado que arrastava sua cauda lentamente pelo chão, e um rapaz, com um elegante terno branco e gravata vermelha. O casal olhou para a dupla no carro sorrindo alegremente.
- Seimic e Margot... – Sibilou o taxista, olhando o casal de cima a baixo com uma visível inquietação.
- Você não acha muita coincidência? – Perguntou o menino ruivo, encarando Seimic com fúria.
- Acho sim. Vamos sair logo daqui. – Clay pisou no acelerador e atravessou o cruzamento em alta velocidade. Não queria encontrar Loren naquela situação, e acreditava realmente que ele estaria perto do casal.
Algum tempo depois, o táxi estacionou. Estavam em uma rua estreita, sem movimento algum nas calçadas. Clay correu até a casa mais próxima e bateu duas vezes na porta. Atrás dele, Razen lançava olhares para os lados com medo de encontrar algo indesejável. Blaze abriu apareceu abrindo a porta, segundos depois, e pediu para que a dupla entrasse.
Depararam-se com uma sala extremamente bagunçada, com livros empilhados em cima de uma mesa retangular, junto de alguns frascos com gosmas viscosas, e alguns pequenos aparelhos estranhos. Pelo chão estavam espalhados dezenas de mapas sujos e pergaminhos com escritas desconhecidas. A dupla deu uma rápida verificada em tudo com o olhar, meio assustados, e continuaram seguindo Blaze, que permanecia quieto, caminhando pela sala tomando o devido cuidado de não pisar nos mapas. Atravessaram a sala inteira, e pararam ao se aproximarem de uma escada, que descia para um andar subterrâneo. Blaze acendeu o interruptor mais próximo com o polegar, iluminando os pequenos degraus de madeira velha.
- Vamos descer. – Disse, pisando lentamente no primeiro degrau para analisar a resistência.
O trio desceu, com alguma dificuldade, em silêncio. Pouco tempo depois chegaram à outra sala, essa ainda mais suja e desorganizada que a outra. Algumas pequenas teias de aranha misturavam-se às estantes de livro no canto mais próximo. Blaze parou subitamente, e encostou a palma da mão no peito de Clay, fazendo sinal para que não andassem. O caçador caminhou até o centro da sala, acompanhado apenas da fraca iluminação do andar de cima. Parou ao chegar próximo de um sofá, extremamente empoeirado e escuro.
- Está aí, Cyka? – Perguntou baixinho, direcionado ao sofá.
O silêncio permaneceu por mais um instante. Blaze espremeu os olhos na tentativa de enxergar algo próximo ao sofá. Clay e Razen, sem entender muito da situação, observavam a cena parados na entrada da sala. Subitamente, ouviram um miado, longo e pavoroso. Um gato negro, com pêlos extremamente grossos e sujos surgiu, pulando de trás do sofá. O gato parou em frente ao caçador, encarando-o com seus belos olhos esverdeados.
- Eu trouxe o rapaz que lhe falei. O mais novo dos Jacobs. – Blaze virou-se, mostrando Razen, que espantado, acenou com a mão devagar.
- Sem dúvidas, um dos filhos de Larks Jacobs. Sardento, com esse cabelo ruivo capaz de iluminar até mesmo um ambiente sombrio como esse. – Blaze virou-se para encarar o gato, mas ele já não estava mais lá. No seu lugar estava uma jovem moça, de olhos igualmente esverdeados, sorrindo por trás dos lábios carnudos. A moça caminhou até a entrada da sala, o único ponto realmente iluminado, e aproximou o rosto de Razen, segurando em seu queixo com a mão. – Quantos problemas você tem causado, pequenino...
- Vamos subir e conversar lá em cima. Esse tipo de ambiente não me agrada nem um pouco – Disse Blaze, tratando de levar todos para o andar superior.
Clay acomodou-se na cadeira mais próxima e suspirou. Estava tenso, sem entender muita coisa, e ansioso por respostas. Igualmente tenso, Razen cruzou os braços e encostou as costas na parede mais próxima, perto de Clay. A jovem Cyka deu uma breve olhada nos mapas espalhados pelo chão, e voltou a olhar pra Razen.
- Serei breve, já que vocês não têm muito tempo a perder. Meu nome é Cyka, e eu sou a esposa do lendário Heter, o Mago Temporal.
- Mago Temporal? – Perguntou Razen. Blaze e Clay lançaram olhares repreensivos para o menino, que ficou envergonhado.
- Sim. – Respondeu Cyka – O Mago Temporal é conhecido pela sua habilidade de confundir e dominar a mente humana, tendo, portanto a capacidade de deixar um rapaz como você, preso em um turbilhão de lembranças sobre a sua vida, em um sonho interminável.
-Então foi ele o causador de tudo. – Disse Blaze, cerrando os dentes e os punhos.
- Exato, mas a culpa não é dele. Meu marido foi capturado, há oito dias, por um casal de magos extremamente habilidosos. Eu tentei impedir, mas não pude com a força deles. Só me restou a transformação em um gato para escapar. Lembro-me que estávamos caminhando por uma rua muito bela, recheada de cerejeiras por todos os lados. O casal de magos apareceu de repente, intimando Heter a ajudá-los em uma missão. Disseram algo sobre uma vingança, que Loren Jacobs estava querendo por em prática. Obviamente, meu marido não aceitou ajudá-los, já que há muito tempo nós deixamos de praticar as artes mágicas.
- E ele acabou capturado, e você, refugiada. – Completou Blaze.
- Sim. Passei cinco dias procurando algum meio de encontrar você, menino mais jovem dos Jacobs. Eles querem você, e eu, o meu marido. – Cyka aproximou-se de Razen, que não se atreveu a encarar a maga com a mesma intensidade do olhar dela.
Clay levantou-se e passou as mãos na cabeça, um tanto quanto desesperado.
- Nós vimos Seimic e Margot no farol hoje. Eles devem estar próximos daqui. – Disse, ofegando e caminhando em círculos pela sala. – PRECISAMOS FUGIR!
O grito de Clay silenciou a todos na sala por um instante. Cyka ergueu lentamente a cabeça para olhar a porta, com alguma desconfiança.
- Não... – Disse, com a voz fraca, erguendo os dedos para apontar a porta – Eles estão... AQ- Cyka não pôde completar a frase. Uma explosão catastrófica acontecia nesse exato momento do lado de fora da casa. Com o impacto da explosão, a porta foi completamente despedaçada, e voou por todos os lados da sala em uma chuva de destroços. Blaze, Razen e Clay colocaram os braços na frente do rosto e tentaram se proteger. Cyka transformou-se novamente em um gato, e correu pra trás dos caçadores, tremendo de medo. Uma vasta camada de poeira espalhou-se por todo o cômodo, servindo de premonição para um acontecimento terrível.
Seimic surgiu na entrada nesse instante. Seu terno branco continuava impecável. O homem adentrou na sala, lentamente. Atraindo os olhares de todos, ele disse:
- É chegado o momento do verdadeiro herdeiro dos Jacobs determinar para o mundo inteiro a sua presença. – Passou a língua nos dedos brancos, sendo observado atentamente por Blaze, que mantinha as mãos sobre as armas, aguardando o momento certo. – É claro que os seus fiéis servos darão uma ajudinha, não é? – Seimic fez um movimento rápido com a mão, como se puxasse energia dentro de si para fazer algo. No segundo seguinte, uma pequena luz branca formou-se ao redor de seu punho, formando uma espécie de luva mágica.
O mago sorriu, com uma maldade terrível nos olhos, e atravessou o cômodo velozmente, na direção de Razen. Foi interceptado por Blaze, que esticou a perna no momento exato para acertar o rosto de Seimic, fazendo-o cair com força em meio aos livros e estantes.
- VAMOS SAIR DAQUI, RÁPIDO! – Gritou Blaze, puxando todos pra fora da casa. Mas não havia mais como fugir. Parados em frente aos destroços do táxi de Clay estavam Loren, empunhando uma pequena espada de prata com a mão esquerda, e Margot, agarrada no braço direito metálico do lorde.
- Há quanto tempo... Razen. – Disse o ruivo mais velho, encarando o irmão furiosamente.
Razen abriu os olhos. Um tanto quanto desnorteado, começou a observar o ambiente. Estava em um quarto de hospital, deitado sobre uma cama macia e quentinha. Ao seu lado viu Clay, sentado em uma cadeira, apoiando-se nas mãos e observando o afilhado.
- O que... Aconteceu? – Perguntou finalmente, após observar a sala mais um instante, e a janela ao fundo que suavemente transmitia calor solar para o cômodo.
- Ninguém sabe ao certo, estamos investigando. Você adormeceu filho, exatamente cinco dias atrás. Não conseguíamos acordá-lo, então resolvemos trazê-lo ao hospital. Mas não adiantou muita coisa.
- Adormeci? Como assim?
- Isso foi obra de alguém que quer lhe fazer mal. Eu fiquei ao seu lado durante esses cinco dias, juntamente de Blaze. Você diversas vezes resmungou coisas que...
- Que o quê? – Perguntou Razen, exasperado.
- Que aconteceram conosco. Creio que você reviveu todo o seu passado, em um sonho interminável. Você resmungou sobre Nibelung, sobre Loren, e até mesmo sobre a vez em que você sofreu a primeira Queda com Blaze.
Razen arregalou os olhos, assustado. Lembrou-se de ter mesmo sonhado com tudo o que acontecera em sua vida.
- Foi... Isso mesmo. Mas como pode ter acontecido? Quem teria feito isso?
Clay não respondeu. Acabara de atender o celular, que tocava insistentemente enquanto Razen falava.
- Certo, estamos indo. – Disse Clay, desligando o celular. – É hora de descobrir a verdade, filho.
Pouco tempo depois, a dupla deixou o hospital. Clay conversou com os médicos durante algum tempo, e não teve muitos problemas para liberar o paciente.
No estacionamento, Razen, que continuava confuso e pensativo, perguntou:
- Se eu resmunguei coisas sobre Nibelung... Talvez Blaze já saiba a verdade... Que nós dois matamos o avô dele.
- Ah sim, ele já sabe. Blaze não parece muito preocupado com familiares vampiros... – Respondeu Clay com tranqüilidade, enquanto entrava no taxi para deixarem o estacionamento.
Durante o caminho, ambos permaneceram em silêncio. O dia estava calmo, as ruas pouco movimentadas e algumas poucas lojas abertas aguardando clientes. O Táxi parou em um cruzamento, com o semáforo piscando em vermelho. Dois pedestres atravessavam lentamente. Razen observou algo estranho neles, e comunicou ao companheiro:
- Veja esses dois...
Clay olhou para os pedestres, e arrepiou-se. Era uma dama, portando um longo vestido azulado que arrastava sua cauda lentamente pelo chão, e um rapaz, com um elegante terno branco e gravata vermelha. O casal olhou para a dupla no carro sorrindo alegremente.
- Seimic e Margot... – Sibilou o taxista, olhando o casal de cima a baixo com uma visível inquietação.
- Você não acha muita coincidência? – Perguntou o menino ruivo, encarando Seimic com fúria.
- Acho sim. Vamos sair logo daqui. – Clay pisou no acelerador e atravessou o cruzamento em alta velocidade. Não queria encontrar Loren naquela situação, e acreditava realmente que ele estaria perto do casal.
Algum tempo depois, o táxi estacionou. Estavam em uma rua estreita, sem movimento algum nas calçadas. Clay correu até a casa mais próxima e bateu duas vezes na porta. Atrás dele, Razen lançava olhares para os lados com medo de encontrar algo indesejável. Blaze abriu apareceu abrindo a porta, segundos depois, e pediu para que a dupla entrasse.
Depararam-se com uma sala extremamente bagunçada, com livros empilhados em cima de uma mesa retangular, junto de alguns frascos com gosmas viscosas, e alguns pequenos aparelhos estranhos. Pelo chão estavam espalhados dezenas de mapas sujos e pergaminhos com escritas desconhecidas. A dupla deu uma rápida verificada em tudo com o olhar, meio assustados, e continuaram seguindo Blaze, que permanecia quieto, caminhando pela sala tomando o devido cuidado de não pisar nos mapas. Atravessaram a sala inteira, e pararam ao se aproximarem de uma escada, que descia para um andar subterrâneo. Blaze acendeu o interruptor mais próximo com o polegar, iluminando os pequenos degraus de madeira velha.
- Vamos descer. – Disse, pisando lentamente no primeiro degrau para analisar a resistência.
O trio desceu, com alguma dificuldade, em silêncio. Pouco tempo depois chegaram à outra sala, essa ainda mais suja e desorganizada que a outra. Algumas pequenas teias de aranha misturavam-se às estantes de livro no canto mais próximo. Blaze parou subitamente, e encostou a palma da mão no peito de Clay, fazendo sinal para que não andassem. O caçador caminhou até o centro da sala, acompanhado apenas da fraca iluminação do andar de cima. Parou ao chegar próximo de um sofá, extremamente empoeirado e escuro.
- Está aí, Cyka? – Perguntou baixinho, direcionado ao sofá.
O silêncio permaneceu por mais um instante. Blaze espremeu os olhos na tentativa de enxergar algo próximo ao sofá. Clay e Razen, sem entender muito da situação, observavam a cena parados na entrada da sala. Subitamente, ouviram um miado, longo e pavoroso. Um gato negro, com pêlos extremamente grossos e sujos surgiu, pulando de trás do sofá. O gato parou em frente ao caçador, encarando-o com seus belos olhos esverdeados.
- Eu trouxe o rapaz que lhe falei. O mais novo dos Jacobs. – Blaze virou-se, mostrando Razen, que espantado, acenou com a mão devagar.
- Sem dúvidas, um dos filhos de Larks Jacobs. Sardento, com esse cabelo ruivo capaz de iluminar até mesmo um ambiente sombrio como esse. – Blaze virou-se para encarar o gato, mas ele já não estava mais lá. No seu lugar estava uma jovem moça, de olhos igualmente esverdeados, sorrindo por trás dos lábios carnudos. A moça caminhou até a entrada da sala, o único ponto realmente iluminado, e aproximou o rosto de Razen, segurando em seu queixo com a mão. – Quantos problemas você tem causado, pequenino...
- Vamos subir e conversar lá em cima. Esse tipo de ambiente não me agrada nem um pouco – Disse Blaze, tratando de levar todos para o andar superior.
Clay acomodou-se na cadeira mais próxima e suspirou. Estava tenso, sem entender muita coisa, e ansioso por respostas. Igualmente tenso, Razen cruzou os braços e encostou as costas na parede mais próxima, perto de Clay. A jovem Cyka deu uma breve olhada nos mapas espalhados pelo chão, e voltou a olhar pra Razen.
- Serei breve, já que vocês não têm muito tempo a perder. Meu nome é Cyka, e eu sou a esposa do lendário Heter, o Mago Temporal.
- Mago Temporal? – Perguntou Razen. Blaze e Clay lançaram olhares repreensivos para o menino, que ficou envergonhado.
- Sim. – Respondeu Cyka – O Mago Temporal é conhecido pela sua habilidade de confundir e dominar a mente humana, tendo, portanto a capacidade de deixar um rapaz como você, preso em um turbilhão de lembranças sobre a sua vida, em um sonho interminável.
-Então foi ele o causador de tudo. – Disse Blaze, cerrando os dentes e os punhos.
- Exato, mas a culpa não é dele. Meu marido foi capturado, há oito dias, por um casal de magos extremamente habilidosos. Eu tentei impedir, mas não pude com a força deles. Só me restou a transformação em um gato para escapar. Lembro-me que estávamos caminhando por uma rua muito bela, recheada de cerejeiras por todos os lados. O casal de magos apareceu de repente, intimando Heter a ajudá-los em uma missão. Disseram algo sobre uma vingança, que Loren Jacobs estava querendo por em prática. Obviamente, meu marido não aceitou ajudá-los, já que há muito tempo nós deixamos de praticar as artes mágicas.
- E ele acabou capturado, e você, refugiada. – Completou Blaze.
- Sim. Passei cinco dias procurando algum meio de encontrar você, menino mais jovem dos Jacobs. Eles querem você, e eu, o meu marido. – Cyka aproximou-se de Razen, que não se atreveu a encarar a maga com a mesma intensidade do olhar dela.
Clay levantou-se e passou as mãos na cabeça, um tanto quanto desesperado.
- Nós vimos Seimic e Margot no farol hoje. Eles devem estar próximos daqui. – Disse, ofegando e caminhando em círculos pela sala. – PRECISAMOS FUGIR!
O grito de Clay silenciou a todos na sala por um instante. Cyka ergueu lentamente a cabeça para olhar a porta, com alguma desconfiança.
- Não... – Disse, com a voz fraca, erguendo os dedos para apontar a porta – Eles estão... AQ- Cyka não pôde completar a frase. Uma explosão catastrófica acontecia nesse exato momento do lado de fora da casa. Com o impacto da explosão, a porta foi completamente despedaçada, e voou por todos os lados da sala em uma chuva de destroços. Blaze, Razen e Clay colocaram os braços na frente do rosto e tentaram se proteger. Cyka transformou-se novamente em um gato, e correu pra trás dos caçadores, tremendo de medo. Uma vasta camada de poeira espalhou-se por todo o cômodo, servindo de premonição para um acontecimento terrível.
Seimic surgiu na entrada nesse instante. Seu terno branco continuava impecável. O homem adentrou na sala, lentamente. Atraindo os olhares de todos, ele disse:
- É chegado o momento do verdadeiro herdeiro dos Jacobs determinar para o mundo inteiro a sua presença. – Passou a língua nos dedos brancos, sendo observado atentamente por Blaze, que mantinha as mãos sobre as armas, aguardando o momento certo. – É claro que os seus fiéis servos darão uma ajudinha, não é? – Seimic fez um movimento rápido com a mão, como se puxasse energia dentro de si para fazer algo. No segundo seguinte, uma pequena luz branca formou-se ao redor de seu punho, formando uma espécie de luva mágica.
O mago sorriu, com uma maldade terrível nos olhos, e atravessou o cômodo velozmente, na direção de Razen. Foi interceptado por Blaze, que esticou a perna no momento exato para acertar o rosto de Seimic, fazendo-o cair com força em meio aos livros e estantes.
- VAMOS SAIR DAQUI, RÁPIDO! – Gritou Blaze, puxando todos pra fora da casa. Mas não havia mais como fugir. Parados em frente aos destroços do táxi de Clay estavam Loren, empunhando uma pequena espada de prata com a mão esquerda, e Margot, agarrada no braço direito metálico do lorde.
- Há quanto tempo... Razen. – Disse o ruivo mais velho, encarando o irmão furiosamente.
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