quarta-feira, 29 de setembro de 2010

Capítulo 12 - Misericórdia

Razen observou o irmão, trêmulo. A visão de Loren, com um braço metálico, empunhando uma espada, pronto para acabar com seu próprio irmão, foi muito perturbadora para o pequeno ruivo, que se afastou lentamente, dando passos pra trás e procurando uma parede com os dedos para se apoiar.
- Está com medo? – Disse Loren, desvencilhando-se das mãos de Margot, e aproximando-se de Razen.
Blaze estendeu o braço rapidamente, com o cano de sua shotgun encostada no lado esquerdo da cabeça de Loren, e disse:
- Mais um passo e o seu crânio vai voar longe, rapaz. Já cansei dessa brincadeira idiota de gato e rato. É hora de tomar uma atitude.
- Quem é esse infeliz apontando essa arma? – Retrucou o ruivo, com desprezo. Seimic apareceu nesse momento, saltando pra fora da casa de Cyka com os punhos erguidos, atacando Blaze, que desviou dando alguns passos pra trás. Loren aproveitou a brecha, e tentou apunhalar Razen no peito, que desviou por muito pouco, sofrendo um corte na camisa. O ruivo mais novo, desesperado, iniciou uma fuga pela calçada, aproveitando a ausência de pessoas e veículos. Loren seguiu-o de perto, com a espada brilhando contra o calor do sol, e o braço tremendo de tanta ansiedade em perfurar o tão odiado irmão. Clay, vendo a perseguição, pegou um pequeno pedaço de madeira – pertencente à porta destruída por Seimic outrora – e correu atrás de Loren para tentar impedir a tragédia.
Blaze tentou correr também, mas se viu encurralado por Seimic, que investia diversas vezes contra o corpo do caçador, desferindo socos e chutes carregados de uma brilhante energia branca, muito provavelmente mágica.
- Será mesmo que vou ter que acabar com você antes do seu chefe? – Provocou Blaze, defendendo um dos socos de Seimic com o braço.
- Acabar comigo? – Perguntou o mago, rindo debochadamente.
- Me desculpe, mas a minha paciência esgotou. – Sibilou o caçador, batendo com o cabo da shotgun no peito de Seimic, e girando a arma logo em seguida, apontando agora diretamente para o rosto do mago. – Espere por mim no inferno. – Disse, antes de atirar.
O tiro acertou em cheio, e a luta parecia estar acabada. Porém, algo estranho aconteceu. Mesmo com duas balas alojadas no rosto – uma no nariz e outra na bochecha – Seimic continuava sorrindo debochadamente, parecendo nem mesmo sentir dor.
- O que diabos é você? – Perguntou Blaze, assustado.
- Eu sou... – Seimic avançou contra o caçador, e desferiu um soco envolto de uma grande camada da energia branca no peito do rapaz, que acabou chocando-se contra um poste do outro lado da rua – Imortal.
Margot, que apenas assistia a tudo pacientemente, sorriu nesse momento, e olhou para a pequena gata amedrontada escondida debaixo do carro.
- Você poderia criar coragem e vir brincar comigo. Em nosso último encontro eu não tive oportunidade nem mesmo de utilizar minhas habilidades mais apavorantes – Entoou Margot, cruzando os braços delicadamente e observando a gata, que saiu lentamente de baixo do carro, e transformou-se novamente na bela jovem Cyka.
- Muito bem então. Todos estão lutando e tentando nos ajudar. Eu farei a minha parte, acabando com você.
- Ora, ora... Não blasfeme de tal modo. Você deve saber que eu sou como o meu marido. – Margot abaixou a voz nesse momento, e disse pausadamente – Imortal.
- Sim, eu sei – Respondeu Cyka – Como também sei que – A maga temporal iniciou gestos com as mãos, e começou a se aproximar de Margot – A sua imortalidade depende do seu querido líder ruivo permanecer vivo. – Uma luz roxa surgiu entre os dedos da maga, e espalhou-se pelo ar até formar uma bela espada negra – Meu papel então é manter você ocupada, até ele estar MORTO. – A maga avançou contra Margot, confiante em si mesma agora.
Margot fez alguns gestos com as mãos, e criou outra espada de luz, um pouco maior e mais grossa que a de Cyka, e atacou-a. As duas magas iniciaram um embate de espadas, onde a cada choque das lâminas, um brilho ofuscante atrapalhava a visão do próximo golpe.
Blaze e Seimic continuavam a digladiar, o caçador atirando contra diversas partes do corpo do mago, sem sucesso em derrubá-lo, e Seimic retrucando com alguns socos e chutes poderosíssimos.
Razen continuava a fugir, passando por diversas ruas desertas, seguido de perto por Loren, que disparava golpes contra o ar na tentativa de acertar as costas do irmão. Clay, um pouco mais atrás, tentava acompanhar o ritmo dos dois, desesperado em ajudar o afilhado. Ao cruzar uma avenida enorme, e quase ser atropelado por dois carros que passavam em alta velocidade, Razen entrou em um beco, crente que iria encontrar uma saída ao fim dele, mas não encontrou. Correu até o fim do beco, já não tendo mais como escapar por algum outro lugar. Virou-se de costas para a parede que representava o fim de sua fuga, e observou seu irmão, que agora diminuía o passo, rir alegremente ao constatar a ausência de caminhos no fim do beco.
- É chegada a hora que tanto esperei – Disse Loren, aproximando-se lentamente de Razen, com a espada empunhada, em posição de ataque.
- Por que tudo tem que acabar assim? – Perguntou Razen, chorando em desespero, ao ver seu irmão cada vez mais perto, pronto para tirar a sua vida. – Você é o meu IRMÃO. Nós CRESCEMOS JUNTOS, vivemos EXPERIÊNCIAS JUNTOS, PRA UM DIA VOCÊ SIMPLESMENTE MUDAR E DECIDIR ME MATAR?
- SIM, Razen, SIM! Crescemos juntos, e eu sempre fui o mais querido por todos! Fui melhor do que você em tudo, então POR QUE VOCÊ TINHA QUE TER O PODER PARA MATAR VAMPIROS? Por que você e não EU, o verdadeiro PREDESTINADO a isso? VEJA O MEU BRAÇO, VEJA O QUE ACONTECEU COMIGO POR SUA CULPA– Retrucou o ruivo mais velho, gritando enlouquecido, com o rosto sardento vermelho em fúria e o braço metálico em movimento
Razen, mergulhado em um choro incontrolável, percebeu uma coisa que jamais havia notado:
- Então... Todo o seu ódio é baseado apenas na culpa que você me atribuiu pela perda do seu braço – Sussurrou – Uma perda causada apenas pela sua própria arrogância em querer enfrentar o vampiro sozinho...
Loren fitou seu irmão por alguns segundos, controlando a respiração e recuperando a postura.
- Quer saber? Não importa de onde vem o meu ódio. O que importa é que tudo vai acabar agora. Eu nunca mais terei que ver essa sua cara nojenta, e poderei finalmente viver em paz, tendo a certeza de que todas as minhas vinganças foram completas. O assassino de meus pais já não existe mais, e o menino ruivo que ousou tirar o MEU poder de acabar com os vampiros morre AGORAAAAA – Gritou Loren, avançando contra o corpo de Razen, que, sem ação, apenas olhou para seu irmão aguardando um milagre que impedisse a sua morte.
-Milagres não acontecem, filho. Apenas um milagre poderia impedir que eu viajasse para o país vizinho com a sua mãe agora. Mas isso não vai acontecer. Eu viajarei, e resolverei de uma vez por todas os nossos problemas com um velho conhecido, que está atormentando a nossa vida há um longo tempo. Não se preocupe, eu levarei você e o seu irmão para a casa do meu jovem amigo Clay. Ele é um bom rapaz, tenho certeza de que cuidará muito bem de vocês enquanto eu estiver fora.
Razen se lembrou das palavras de seu pai Larks, quando ainda tinha apenas seis anos, e estava prestes a conhecer Clay.
- Mas quanto tempo você vai demorar lá, papai? Tenho certeza de que Loren vai chorar bastante sentindo sua falta, mas eu vou tentar ajudá-lo. Meu irmão precisa muito de mim!
- Sim filho, seja um bom irmão mais novo para o Loren. Ele vai precisar de você. Loren é um bom menino, apesar de não ter muita certeza em suas decisões e atitudes. O futuro de vocês dois será maravilhoso, e eu estarei lá para acompanhar todos os detalhes!
- Vou me juntar a você, pai. – Disse Razen, ao sentir a ponta da espada de Loren atravessar o seu peito lentamente. As lágrimas, que ainda escorriam do rosto cada vez mais pálido e sem vida, misturaram-se ao doce vermelho do sangue jorrando do corte. O pequeno ruivo já havia perdido os sentidos quando seu irmão, chocado com o que acabara de fazer, retirou a espada e observou-a. Observou o sangue fresco escorrendo da espada e do corte no peito de seu irmão, e sentiu um desamparo insuportável.
- O que... Eu fiz? Acabei com a vida da única família que me restava no mundo... Matei o meu próprio irmão... – Loren largou a espada e agarrou o corpo de Razen – ACORDE... ACORDE POR FAVOR – Chacoalhou o corpo sem vida – Por favor...
Clay avistou os ruivos nesse momento. Estava do outro lado do beco, por onde outrora eles passaram. Acelerou o passo para chegar até eles e gritou:
- Não faça nenhuma besteira Loren! Não mate seu irmão! Você vai se arrepender disso pra sempre! – Quando finalmente se aproximou, percebeu que era tarde. Ao ver a figura de Loren abraçando Razen sem vida, com um buraco no peito e um derramamento sem igual de sangue, Clay empurrou o ruivo mais velho e puxou Razen, gritando pelo nome do afilhado em uma angústia profunda.
Loren, sem conseguir raciocinar corretamente, pegou novamente a espada, e caminhou até Clay, olhando-o com a mesma raiva de antes.
- VAI ME MATAR TAMBÉM? VEJA O QUE VOCÊ FEZ SEU MANÍACO! – Gritou Clay, puxando o corpo de Razen para longe do irmão, que se aproximava lentamente.
- Não, não vou te matar. Vou fazer o que deveria ter feito desde o início – Loren olhou para Clay, clamando por piedade e murmurou – Perdão... Pai. – E cravou a espada contra o próprio peito, caindo fulminado em seguida.
Clay olhou para o corpo de Loren, e involuntariamente começou a chorar, apertando com força Razen em seus braços.
- Só pode ser um pesadelo...
Seimic, com cerca de 8 balas alojadas por entre o corpo, continuava a rir de Blaze, que agora se desvencilhava dos socos e chutes com alguma dificuldade.
Cyka, que continuava a digladiar com Margot, parou por um instante, e encarou a maga com frieza.
- Duas presenças... Acabaram de partir. Parece que... Acabou.
Margot baixou a espada, e sentiu uma pontada no coração. Percebera ali que o seu líder estava morto.
- Não... Não pode ser... – Sibilou.
- Diga adeus à sua imortalidade, e à sua vida. – Frisou Cyka, antes de atravessar sua espada na maga, que não tentou nem mesmo reagir.
Blaze, percebendo que a inimiga fora derrotada, acertou um chute em Seimic, fazendo-o cambalear, e tentou atirar novamente. Os tiros acertaram nas costas do mago, que cuspiu sangue e olhou para o caçador, assombrado.
- Sangue...? Não... MESTRE... – Disse o mago, virando a cabeça para os lados tentando sentir a presença de Loren.
Blaze aproximou-se do inimigo e apontou novamente sua shotgun na cabeça, dizendo:
- Vou lhe fazer o favor de juntá-lo ao seu mestre novamente, agora mesmo.
Seimic olhou para Blaze, e respondeu:
- Não existe motivo pra viver... Se o meu mestre não está mais aqui.
O caçador atirou no momento seguinte, e suspirou. Cyka aproximou-se, e disse:
- Temos que ser rápidos. Sinto que alguma coisa muito ruim aconteceu com aqueles ruivos. – Transformou-se novamente em gato e pulou no ombro de Blaze, que sussurrou:
- Se algo aconteceu ao Razen...

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