Capítulo 4 – Coragem
Matsuru foi o primeiro a entrar na casa. Em seguida entraram Blaze, Razen e Koji. Uma imagem aterrorizante deixou os quatro atordoados. Havia sangue por toda a pequena casa, e algumas pequenas manchas no solo branco formavam a palavra NOBUSHI. Shaleen estava estirada na cama, ensangüentada, com os olhos fixos no teto. Um corte fino se estendia do peito até a cintura da menina, executado exatamente no centro do corpo. Matsuru se aproximou lentamente da filha, com os olhos cheios de lágrimas, ajoelhou-se e acariciou o cabelo dela delicadamente.
-Eu... Não vou deixar isso barato... Filha. – Sussurrou Matsuru. As lágrimas continuavam a escorrer de seu rosto pálido. Blaze e Razen tiraram seus chapéus, abaixaram a cabeça e saíram da casa, acompanhados de Koji, que encarou a cena friamente.
-O que vamos fazer? – Perguntou Razen, enquanto o trio caminhava pela vila e via as pessoas desoladas espalhadas pelos cantos, sem tomarem alguma atitude ou ação digna.
Blaze observou o ambiente por alguns instantes e disse:
-Não acho a situação propícia para descansos. Vou até a aldeia desse desgraçado acabar logo com isso. É melhor que você fique por aqui Razen, cuidando dessas pessoas. Ainda não entendi completamente qual é a influência que esse oráculo causa neles, mas é algo muito intenso. Koji, você vem comigo.
Koji abaixou a cabeça em sinal positivo. Razen não gostou da idéia de ter que ficar na aldeia, mas preferiu não dizer nada. Blaze e Koji se encaminharam para o sul, mas pararam ao ver Matsuru saindo da casa onde encontraram Shaleen. Com uma postura fria e determinada, empunhando uma lança de prata um pouco menor que o tamanho de seu corpo, ele ordenou:
-Levem-me com vocês. Eu quero ajudar a eliminar Nobushi e resgatar o nosso oráculo. É o meu dever como líder.
Blaze encarou o determinado Matsuru por alguns segundos, enquanto as pessoas ao redor estavam espantadas com a atitude do líder.
-Muito bem... Se é o que você quer, não vou tentar impedir. Só faça o favor de não morrer inutilmente. – Respondeu Blaze, saindo da vila acompanhando de Koji. Matsuru virou-se para os aldeões e disse:
-É chegado o momento final, meus amigos e amigas. Hoje nós traremos de volta para a aldeia o nosso querido Gyankou, e recuperaremos a estima e alegria de outrora. Lutarei como homem até o fim, e caso eu não volte, peço que tomem conta da nossa aldeia com carinho. Até mais. – Matsuru deu as costas para as pessoas, que continuavam atordoadas e confusas, e andou depressa para alcançar Blaze e Koji. Os três caminharam, com a correnteza à direita serpenteando levemente pelas fendas no solo. A paisagem era bonita, um gramado bem verde separava as duas aldeias, um campo grande, recheado de árvores e pequenos animais silvestres. Nenhum dos três disse algo, até chegarem à entrada da aldeia de Nobushi. Duas criaturas vestindo kimonos azuis e longos chapéus de palha estavam de guarda, e notando a presença do trio, tomaram posição de batalha. Puxaram de suas bainhas katanas de lâminas finas e levantaram o rosto para observar os visitantes. Blaze, Koji e Matsuru pararam de andar.
-São eles... Demônios Hoanes, os incansáveis. Eles lutam como verdadeiros samurais habilidosos.
Os dois demônios tinham diversas rugas espalhadas pelo rosto, boca fina sem lábios, duas fendas um pouco acima da boca, representando o nariz, e olhos amarelos. Olhos frios e mortais, capazes de fazer os mais fracos caírem ao chão de tanto pavor. Blaze encarou-os com a mesma intensidade que eles o encaravam. Koji tomou a frente.
-Permitam-me dar conta desses dois seres das trevas. Servirão como um aquecimento decente para as minhas lâminas. – Disse Koji, desembainhando suas espadas gêmeas, de lâmina meio entortada.
-Vamos ver então o que um samurai pode fazer. – Disse Blaze, cruzando os braços e apenas observando. Matsuru, ao ver a atitude de Blaze, virou-se para Koji e falou:
-V-vai lutar sozinho contra dois Hoanes? Enlouqueceu? Eles são DEMÔNIOS!
Koji, sem diminuir a sua postura, apenas respondeu:
-Seres das trevas são um desafio à altura de um samurai como eu.
O samurai avançou rapidamente pelo campo, fazendo suas sandálias levantarem poeira do solo duro. Os dois Hoanes também avançaram, um pela esquerda e um pela direita, desferindo um golpe na vertical. Koji sentiu as lâminas próximas a seus ombros, dando então uma cambalhota por entre os dois demônios para escapar. Levantou-se rapidamente já desferindo um golpe horizontal, sem obter sucesso, pois os demônios defenderam com suas espadas. Koji demonstrava um exímio domínio das espadas gêmeas, atacando diversas vezes a dupla adversária e dificultando um contra-ataque.
Os demônios, percebendo que não estavam conseguindo reagir, recuaram alguns passos, retomando posição de batalha e encarando Koji com ferocidade. Koji avançou na direção da dupla, manejando as espadas no ar e desferindo diversos ataques tanto pela horizontal quanto pela vertical. Um dos Hoanes defendeu o golpe de uma das espadas e acertou um chute no estômago de Koji, que com o impacto caiu no chão. Os dois demônios levantaram suas espadas com a ponta virada pra baixo, e tentaram cravá-las no peito do samurai, que rolou pelo chão pra escapar dos dois golpes. A força aplicada pelos demônios foi exagerada, fazendo com que as espadas ficassem presas no chão. Desesperados, eles tentaram retirá-las, enquanto Koji retomava a pose e preparava-se pra finalizar a luta.
-São de fato seres habilidosos, embora não tenham tido muita sorte enfrentando minhas lâminas. – Disse o samurai executando um golpe lateral com ambas as espadas, dividindo o corpo dos Hoanes em dois.
Blaze entortou a boca em um sorriso, enquanto Matsuru, pasmo, observava os corpos mortos dos Hoanes no chão.
-Incrível... Formidável... Você é muito bom Koji! – Exclamou Matsuru, sorrindo alegremente, já pensando na agora possível grande chance de vencerem Nobushi.
-Gostei Koji... Realmente você é um forte samurai. Agora vamos invadir logo essa casa do capeta e acabar com isso.
O trio adentrou na aldeia, que estava completamente deserta. Diversas cabanas estavam espalhadas pelo local, todas vazias. Mais ao fundo havia uma cabana muito maior, capaz de abrigar dezenas de pessoas.
-Que estranho... Onde estão os demônios? Não há ninguém aqui. – Disse Blaze, entrando cuidadosamente em cada cabana e verificando se havia presença de algum ser vivo.
-A cabana mais ao fundo é a de Nobushi, vejam. É muito maior que todas as outras.
O trio abriu a porta da cabana do líder cuidadosamente. Blaze sacou sua Shotgun e manteve empunhada, analisando o local. A cabana era tão comum quanto as outras, exceto pela sua extensão e conforto. Havia diversas camas, duas mesas para refeições e alguns vasos espalhados por cada canto.
-Não estou entendendo mais nada... Onde está Nobushi? – Indagou Matsuru.
Um grito afobado atraiu a atenção do trio, que saíram da cabana e se depararam com um dos soldados da aldeia de Matsuru, muito ferido e ensangüentado, descendo o campo rapidamente até chegar na entrada da aldeia.
-SENHOR... AS TROPAS... OS HOANES... ESTÃO MATANDO... TODOS.. – Disse o guerreiro, caindo lentamente até ficar de joelhos, e, finalmente deitar, fulminado.
-OH MEU DEUS, EU PRECISO PROTEGER A MINHA VILA! – Gritou Matsuru, correndo pelo campo sendo seguido por Blaze e Koji, que economizaram palavras para ganharem fôlego.
Na vila, uma destruição desordenada havia tomado conta de tudo. Diversos Hoanes matavam os soldados que valentemente ainda tentavam defender suas mulheres e filhos. Razen, armado com seu revólver, afastou os Hoanes que tentavam entrar em uma cabana onde ele mantinha todas as mulheres e crianças reunidas, tentando protegê-las. Após matar seis Hoanes, suas balas esgotaram-se. As pessoas desesperadas choravam com medo, enquanto Razen pegou um bastão que estava em cima de uma mesa. Empunhando o objeto, ele se posicionou como obstáculo entre a porta e as pessoas encolhidas na cabana, e aguardou a entrada de mais algum demônio.
-Droga... Não vamos agüentar muito tempo... – Lamentou Razen, batendo diversas vezes em um Hoane que tentou invadir a cabana.
-Eles não morrem com isso... São incansáveis... Você vai bater eternamente sem sucesso. – Lamentou uma senhora desesperada, chorando.
-Tem alguma outra sugestão, minha senhora? Eu não queria enfrentar essa horda de demônios apenas com um bastão! – Respondeu Razen, continuando a golpear o demônio, que tentava se levantar e não parecia sentir dor.
-Será que os seus amigos morreram? – Perguntou a senhora, causando um desespero ainda maior nas pessoas ali presentes.
Razen parou de golpear a criatura por um momento e refletiu.
-Transformem esse pessimismo de vocês em coragem... Não vamos sair vivos daqui assim! Eu preciso que vocês colaborem! – Suplicou Razen, esquecendo-se do Hoane, que se preparava para torcer o pescoço dele com as mãos.
-Então tome a coragem, meu rapaz! – Disse a senhora, pegando uma pá de ferro que estava no chão e desferindo um golpe na direção de Razen, que desviou assustado. A pá acertou no pescoço no Hoane, forçando o deslocamento, e conseqüentemente a morte da criatura.
Matsuru, Koji e Blaze chegaram à aldeia.
-Hora de acabar com os seres das trevas. – Disse Koji, desembainhando suas espadas.
-VAMOS ACABAR COM ISSO AGORA! – Vociferou Matsuru, avançando furiosamente contra os Hoanes.
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